10 anos sem NP

 


NADA MAIS QUE A VERDADE
“Às vezes acordo a minha mulher aos gritos: passa a bola, Dorval!” entregou o Pelé, numa entrevista para a Playboy em 2005. Acho que foi isso. Como essa do Rei, outras frases também marcaram o ser humano para sempre! Uma que eu curto, remete a um tipo de jornalismo, aliás, muito praticado hoje em dia e foi expectorada por Einstein: “se os fatos não se adequam à teoria, mude os fatos”... Uma maravilha! Na imprensa brasileira o grupo de 5 palavras mais marcante dos últimos 50 anos foi e será “Nada mais que a Verdade”, conceito do glorioso e único jornal do país 100% desembargado pelos donos negócio, o Notícias Populares - 1963 – 2001. Ali, naquele quinto andar da rua Barão de Limeira, em SP, não tinha frescura [nem ar condicionado]: era pisar na bola e virar manchete. De preferência, bem cabeluda. Podia ser qualquer cidadão, FHC, então presidente da República, o apaixonado por mocinhas e travecos Ronaldo Fenônemo, o mamaezão do Salgadinho do Katinguelê, o traficante de drogas do Ângela que eu não lembro mais o nome, o delegado de polícia que maquiava o número de chacinas na perifa para livrar a cara [1997 – 2000 foi o período mais violento da história da cidade] os vigaristas do Congresso Nacional... quem fosse. Para a geração da segunda metade dos 90 que acompanhou de perto o noticiário paulistano no NP, este é um registro legítimo. Mas nem todos podem concordar. Passados 10 anos do encerramento das atividades editoriais do jornal, tudo é uma grande e maravilhosa memória. E é em homenagem ao pequeno e jovem exército do Notícias Populares e aos 10 anos do fim do maior jornal popular da história da república, que a gente reproduz aqui algumas primeiras páginas com manchetes que fizeram parte do nosso dia-a-dia e do cotidiano da periferia de São Paulo.
Eu sou Fernando Costa Netto, 51, editor-chefe do NP entre os anos 1997 e 2000.



RETRATOS DA EXCLUSÃO

Em 1997, a fotografia do NP era uma área abandonada, muito tímida. O editor, para se ter uma ideia, era um cara de arte que nunca tinha ouvido falar no filme TRI X! Com o aval do meu chefe Otavio Frias Filho, em alguns meses a foto ganhava 1998 com outro status, o de editoria. Foi a partir daí que repórteres e fotógrafos do jornal ficaram mais íntimos, no mesmo patamar profissional e rapidamente a molecada das Nikon analógicas adquiriu asas e saiu voando alto. Florido, Rafael Jacinto, Márcio Fernandes, Joel Silva, Alexandre Ermel, Shin Shikuma, Rogerio Lacanna, José Maria da Silva entre outros começaram a dar enorme subsídio estético às páginas do jornal e também aos repórteres Helio Santos [ícone] aos especiais Décio Galina e Tognolli, ao monstro André Caramante, ao Marcos Sérgio Silva, aos editores Marcos Nogueira e Marcelo Orozco, aos secretários Paulão e Zé Vicente...  Da nova editoria comandada pelo Flávio Florido, que atualmente dirige a fotografia do UOL, algumas capas, alguns cadernos sobre a carnificina, começavam a apresentar um tipo de linguagem diferente sobre a violência em SP, sem flash e buracos de bala. Este é um capítulo a parte sobre tudo isso, uma tentativa que havia sido tentada poucos anos antes com a Marlene Bergamo e que não sei bem por que não levado adiante. Dessa geração 97 – 00 poucos foram os que baixaram a guarda e se recolheram. A maioria está brilhando por aí. [FCN]




O FANTASMA DAS BANCAS
Os jornaleiros pareciam não acreditar quando penduraram na lateral das bancas a última edição do Notícias Populares, em 26 de janeiro de 2001. Seria difícil dizer adeus à polêmica, aos cadáveres, às mulheres nuas e ao bom humor de todas as manhãs. Mas os quase 40 anos de personalidade ousada, impactante e incômoda não deixaram que o NP saísse de cena definitivamente. Sua presença ultrapassou a simples exposição de uma edição em papel no balcão. Não importa quanto tempo tenha passado do encerramento da publicação, sempre haverá aqueles que continuarão ignorando o fato de que o periódico foi fechado. Esses seguem com a certeza de que o velho “jornal do trabalhador” está lá, expondo suas manchetes ferinas e fotos provocantes. E, apavorados, continuarão fugindo dele. A punhalada final apenas reforçou a imagem do NP de mito do jornalismo brasileiro. Seu fantasma continua rondando as bancas, assombrando a ordem que os jornais tidos como sérios e éticos procuram artificialmente criar. Enquanto várias publicações precisam de panelas, Bíblias e fascículos para ser escoadas, o Notícias Populares, desencarnado há tempos, permanece em posição de destaque na lembrança dos leitores. Por isso, fica a inevitável pergunta: o jornal vai ressuscitar um dia? Improvável. Uma possível venda da marca, apesar de trazer cifrões para a Folha, também resgataria os supostos dilemas éticos que foram usados como justificativa para o assassinato do NP. Não é difícil imaginar que a marca ficará sepultada para sempre nas catacumbas da Barão de Limeira. Aos velhos e fiéis leitores, a lembrança é tudo o que resta. Descanse em paz, Notícias Populares.
Celso de Campos Jr., Denis Moreira, Giancarlo Lepiani, Maik Rene Lima, jornalistas e autores do livro Nada Mais que a Verdade – A extraordinária história do jornal Notícias Populares (Summus Editorial)






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6 comentários:

  1. Fernando,
    Trabalhar no NP foi como jogar num time pequeno e ser campeão brasileiro!
    Baita jornal, baita equipe e, principalmente, um baita leitor!
    Nunca esquecerei cada segundo dos oito anos que passei naquela redação e de tudo que aprendi com todos que lá passaram.
    Parabéns por não deixar as pessoas esquecerem o que foi aquilo tudo.
    A maior certeza que tenho é que nunca mais haverá um ambiente como aquele para trabalhar nesta profissão.
    Um abraço. Saudades.
    Paulo Cesar Martin, Paulão.

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  2. arranjei esse trampo q tô até hj, graças ao seu Luis, padrasto q sempre comprava o NP...fui le um dia e havia uma manchete d concurso público...prestei, passei e fui chamado...tô na empresa até hj...seu Luis já ñ está mais entre nós, e foi bom ver essa matéria sobre esse sensacional jornal!

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  3. quando era um moleque indo pro colégio de manhã, via o NP na banca e pensava no que ia fazer da vida, pensei em fazer jornalismo pra trampar no NP. Não deu tempo, não rolou, mas a memória fica! só resta imaginar como era essa redação! abs,

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  4. Paulão disse tudo!!!!! Passei bem menos tempo por lá (quase 2 anos) mas a sensação é a mesma. Melhor ambiente de trabalho impossível, fora que foi uma grande escola! Muitas saudades. Abs a todos. Luciano Arnold

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  5. Tenho orgulho dos meus 4 anos de NP. Foi ali que me tornei jornalista de verdade, aprendi muito e convivi com pessoas incríveis (dentro da redação e na rua). Na verdade foi ali que eu virei gente. Nas pautas, o time repórter, fotógrafo e motorista era imbatível. Os motoristas tinham espírito aventureiro,nos passavam informações, conheciam as quebradas, estavam ligados no movimento. Das parcerias com fotógrafos até eu, que cobria Sindical e Economia, tenho histórias pra lembrar quando da vez que eu e Regina de Grammont fomos expulsas do cemitério de Santos; de uma super roubada com o Lacanna no Jd Angela e do Shikuma me acalmando num helicóptero velho, caindo aos pedaços, sobrevoando o Tiquatira. Quanta adrenalina!
    Solange Guimarães

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